terça-feira, 24 de abril de 2012


Foi enquanto eu estava refletindo nas arbitrariedades da vida que ouvi algo farfalhando. Virei a cabeça bem a tempo de pegar Jesse tentando se desmaterializar.
— Ah, não, você não vai fazer isso —  falei enquanto sentava. E provocava uma tremenda dor nas costelas. — Volte aqui agora mesmo!
Ele voltou, com uma expressão acanhada.
— Achei que você estava dormindo. Por isso decidi retornar mais tarde.
— Cascata. Você viu que eu estava acordada, por isso ia  retornar mais tarde quando tivesse certeza de que eu estaria dormindo. — Não dava para acreditar. Não dava para  acreditar no que eu o tinha apanhado tentando fazer. Descobri que isso doía mais do que as costelas. — O que é, agora você só vai me visitar quando eu estiver inconsciente? É isso?
— Você passou por uma situação muito difícil. —  Jesse parecia mais desconfortável do que eu já o tinha visto. — Escutei sua mãe, na casa, dizer a todo mundo que ninguém deveria fazer nada para perturbar você.
— Ver você não vai me perturbar.
Eu estava magoada. De verdade. Puxa, tinha consciência de que Jesse estava furioso comigo pelo que eu tinha feito, você sabe, aquela coisa de enganar Michael para ir ao Ponto para que os Anjos da RLS pudessem matá-lo, mas não querer nem mesmo falar comigo mais... Bem, isso era barra!
A dor que eu sentia deve ter aparecido no rosto, porque quando Jesse falou foi na voz mais gentil que eu já o ouvi usar.
— Suzannah, eu...
— Não — interrompi. — Deixe eu falar primeiro. Jesse, desculpe. Desculpe aquilo tudo ontem à noite. Foi culpa minha. Não acredito que fiz aquilo. E nunca, jamais, vou me perdoar por ter arrastado você para lá.
— Suzannah...
— Eu sou a pior mediadora. — Assim  que dei o pontapé  inicial, achei difícil parar.  —  A pior que já existiu. Deveria  ser expulsa da organização dos mediadores. Sério. Não acredito que fiz uma coisa tão estúpida. E não culparia você se nunca mais falasse comigo. Só que... — Olhei-o de novo, sabendo que havia lágrimas nos meus olhos. Mas dessa vez não estava com vergonha de ser vista. — Só que você precisa entender: Michael tentou matar minha família. E não dava para deixar que ele ficasse numa boa. Dá para entender?
Então Jesse fez uma coisa que nunca tinha feito. E duvido que faça outra vez.
E aconteceu tão depressa que depois nem tive certeza de que aconteceu de verdade ou se, cheia de remédios nas idéias, eu imaginei.
Mas tenho quase certeza de que ele se esticou e tocou minha bochecha.
Só isso. Desculpe se dei esperanças a você. Ele só tocou minha bochecha, a única parte de mim, imagino, que não estava arranhada, cortada ou partida.
Mas não me importei. Ele tinha tocado minha bochecha. Roçado, na verdade, com as costas dos dedos, e não as pontas. Depois baixou a mão.
— Sí, querida — disse ele em espanhol. — Eu entendo.
Meu coração começou a bater tão depressa que tive certeza de que ele podia ouvir. Além disso, provavelmente não preciso dizer, minhas costelas doíam, doíam de verdade. Cada pulsação parecia fazer o coração se chocar contra elas.
— E o único motivo para eu ter ficado tão furioso foi porque não queria que isso acontecesse com você.
Ao falar a palavra isso, ele sinalizou para o meu rosto. Percebi que o negócio devia estar muito ruim.
Mas não me importava. Ele tinha tocado minha bochecha. Seu toque foi gentil, e, para um fantasma, quente.
Eu sou patética ou o quê, para um simples gesto assim me deixar de cabeça para baixo de tanta felicidade?
Falei, feito uma idiota:
— Eu vou ficar bem. Disseram que nem vou precisar fazer plástica.
Como se um cara nascido em 1830 soubesse o que era uma plástica. Meu Deus, eu sei estragar um clima ou não sei?
Mesmo assim Jesse não se afastou exatamente. Ficou ali me olhando como se quisesse dizer mais alguma coisa. E eu estava perfeitamente disposta a deixar que ele dissesse. Especialmente se me chamasse de querida de novo.
Só que não me chamou de nada. Porque nesse momento Gina entrou de novo no quarto segurando duas latas de refrigerante. — Adivinha só? — disse ela enquanto Jesse tremulava e, com um sorriso para mim, desaparecia.


# Série " A Mediadora" - *Reunião, Meg Cabot. 

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tupy

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